A nova temporada de
chuvas, que já deu uma razoável sobrevida aos mananciais de Vazante e região,
não pode postergar as discussões que envolvem o futuro do Rio Santa Carina.
Menos conhecido que os grandes rios da bacia do São Francisco no Noroeste
Mineiro, ele tem sido alvo freqüente de repercussões midiáticas nos últimos
anos, com preocupantes notícias de sua degradação ambiental. Da poluição por
escoamentos de esgotos, a inexplicáveis mortandades de peixes e até a
contaminação das águas por metais pesados, tudo já foi manchete na imprensa
local e regional sobre sua lenta agonia.
Castigado pela longa estiagem deste ano, o rio novamente
virou notícia com a revelação de mais uma grave ameaça a sua sobrevivência. Os
primeiros alertas foram feitos em meados de outubro por ribeirinhos que
perceberam a existência de dolinas no fundo do rio, num extenso trecho
circundante a área de mineração da Votorantin Metais. Com a queda do nível do
Santa Catarina, as crateras engoliram a maior parte do volume das suas águas,
um fenômeno impressionante e assustador.
Na tarde do dia 7 de
novembro, a reportagem do DeFato foi acionada para registrar um desastroso
efeito do fenômeno, que ocorreu na região do Arrependido. Conforme comprovou o
jornal (fotos), o percurso das águas do rio foi praticamente interrompido
abaixo da antiga ponte do Miralha, na divisa de Vazante e Lagamar. Acima da
ponte, poços de água parada escoavam lentamente por dois pequenos filetes pelo
leito seco do rio. O local, em que a sua largura natural atinge cerca de 20
metros, virou um vão aberto para a passagem de veículos, cujos motoristas
evitavam a travessia pela velha e insegura ponte.
O leito reduzido a areia, cascalho e vasta vegetação pode
ter interrompido o início da sua piracema, porque é justamente neste período do
ano que os peixes sobem pelo rio para desovar e procriar. “Há mais de quarenta anos que moro por aqui e
nunca vi acontecer uma coisa desta.”, afirmou um fazendeiro que passava de
carro pelo vão. Para os ribeirinhos, a interrupção do Rio Santa Catarina seria
mais por conta do surgimento das dolinas que pela falta de chuvas. “Já tivemos
secas iguais ou até piores no passado sem que o rio chegasse a este ponto.”,
lamentou outro antigo morador da região.
Seja por mero
desconhecimento, ou talvez pela sábia percepção da gente vazantina, a
ocorrência de dolinas em Vazante é sempre relacionada às atividades da
Votorantin Metais. Por isso, a direção da empresa apressou-se em buscar uma
solução para o desastre e recorrer à imprensa local para justificar o
fenômeno.
Em entrevistas às
rádios Montanheza, FM Liberdade e TV Noroeste, o gerente da mineradora, Antônio
Padron, revelou que a primeira dolina surgida no leito do rio foi identificada
em 2001. Segundo ele, a partir daquele ano o número de dolinas no Santa
Catarina subiu para treze, sendo doze delas antigas, que a empresa já havia notificado
aos órgãos ambientais. Conforme o gerente, a quantidade de crateras no rio só
foi percebida pelos ribeirinhos por causa do longo período de estiagem que
provocou a drástica redução do seu nível. Ele disse que isto criou a impressão
de que novas dolinas estão surgindo no rio, o que não seria verdade.
Medições feitas pela
Votorantin Metais indicaram que a vazão do Santa Catarina caiu de 7.200 metros
cúbicos de água por hora, no auge da seca de 2013, para 4.800 metros cúbicos na
estiagem deste ano.
Antônio Padron
informou que medidas emergenciais foram tomadas pela empresa para tentar conter
provisoriamente o esvaziamento do leito do Rio Santa Catarina e desmentiu os
comentários de que as águas absorvidas pelas crateras teriam atingido a lavra
subterrânea da mineradora. Ele esclareceu ainda que, por recomendação técnica
da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMAD) e do Instituto Estadual de
Florestas (IEF), as dolinas foram tapadas com mantas impermeáveis. Espera-se que a situação seja contornada com
a chegada das chuvas e o reabastecimento dos lençóis freáticos nas áreas
afetadas. A empresa também se comprometeu a refazer a mata ciliar nos locais em
que realizou as intervenções no rio.
Estudos de especialistas indicam que o impacto ambiental
causado pelas atividades da Votorantin Metais em Vazante aumentou absurdamente
a partir da década de 1990, após o esgotamento da extração de zinco na
superfície. Daquele tempo pra cá, a empresa passou a extrair o minério na lavra
subterrânea que, hoje, tem aproximadamente 350 metros de profundidade e mais de
100 quilômetros de galerias. Naquela
época, um laudo da FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente) confirmou que a
nova forma de exploração do minério causaria a chamada “subsistência do solo”,
afundamento de terrenos por escassez de água no subsolo.
Em abril de 1999,
cerca de dois anos antes do surgimento da primeira dolina no Rio Santa
Catarina, as escavações na lavra atingiram um imenso lençol freático forçando a
mineradora a bombear sistematicamente grande quantidade de água extraída da
mina até os dias atuais. Naquela ocasião, um documento elaborado pelo
ex-vereador Donizetti Vida para a Promotoria Pública de Vazante alertou para a
dimensão do que havia ocorrido: "o desperdício de água, numa proporção de
180.000 metros cúbicos por dia, seria suficiente para abastecer uma cidade com
360 mil residências com consumo diário de 500 litros cada". A temeridade
da denúncia do vereador na ocasião seria ainda mais assombrosa nestes tempos de
reservatórios vazios.
Durante os seus três
mandatos, Donizete Vida foi um solitário e aguerrido defensor da maior
fiscalização e controle das atividades da mineradora, para evitar outras
catástrofes ambientais no município, como o sumiço do Poço Verde e da Lagoa do
Sucuri. Antes que o velho “Catirina” venha a morrer de sede - por força da
grana que ergue e destrói coisas belas - há uma questão pertinente que precisa
ser considerada nas reflexões sobre as operações da Votorantim Metais em
Vazante: “Quem ganha mais: a empresa ou a cidade?”.
Não resta dúvida de
que a Votorantim Metais é essencial para o município, promovendo divisas,
proporcionando a geração de emprego e renda, arrecadação de tributos e
movimento na economia local. Por outro lado, de onde ela extrairia com a mesma
abundância este raro e valioso produto que vem lhe garantindo bilhões em lucros
ao longo de tantos anos, senão na própria Capital do Zinco?
(REDAÇÃO: LANDO LACERDA)
Prefeito, vereadores e população de vazante deveriam mobilizar para acabar com essa poca vergonha. Essa mentirada da empresa que so toma de vazante. mentiras e mentiras. fato que o gerente mente das dolinas. ta na hora ou ja passou da hora de alguem serio da empresa responder estes questões. parabens valmir e lando, mostraram que tem coragem e não ficam lendo notas. mostraram posturas que deveria vir do prefeito. falta que o donizete vida faz viu. sumiu o rio, daqui a pouco é vazante.
ResponderExcluir