segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Anota uma pro Juquinha!

                 Colunista relembra a merecida homenagem a Poetisa de Vazante

Recentemente, no bar do meu amigo Lazinho, um senhor desconhecido, já de certa idade, tipo bem matuto, aproximou-se da minha mesa para agradecer-me por uma coisa que eu já nem lembrava que havia feito. Confundindo-me com o meu irmão Juquinha – que está residindo em Brasília – o senhor me perguntou se eu não importaria de tomar uma “cervejada” com ele. “Faço questão de pagar a conta, porque não gosto mesmo é de beber sozinho”, disse ao sentar numa cadeira ao meu lado.
Procurei recordar se eu conhecia aquele senhor, mas não encontrei nenhuma referência na memória. Pensei que fosse um dos antigos fregueses do boteco do velho Ciça, que lembram mais do Juquinha do que de mim. Muita gente me confunde com o Juca, não só pela semelhança física, mas também pela sua incrível popularidade, principalmente entre as pessoas mais velhas e conhecidas dos nossos pais.
         Fiquei surpreso quando o senhor afirmou que eu ajudei o seu filho a arranjar um emprego “fichado” numa empreiteira da “CMM” e virar “gente de bem”. Ele disse que seu filho, hoje, trabalha em São Paulo e ganha um “salarião”. Sem saber exatamente porque ele me agradecia, eu só fui entender quando o especulei curioso sobre os detalhes do caso.
         Há cerca de dez anos atrás (ou mais), eu e o então presidente da Câmara Municipal, ex-vereador Amir Pedro de Melo, promovemos o “Mutirão da Cidadania”, primeira grande ação para emissão gratuita de documentos pessoais ocorrida em Vazante, realizada no ginásio da ADCVM. O evento ganhou estrondosa repercussão e possibilitou que centenas de pessoas da cidade e da região obtivessem certidão de nascimento, carteira de identidade, CPF, carteira de trabalho e título de eleitor.
         Dezenas de pessoas humildes, principalmente moradores do meio rural, conseguiram os seus primeiros documentos graças àquela ação, que também teve um cunho cultural, com apresentações musicais e uma merecida homenagem a saudosa poetiza Dona Otávia Rosa, autora do hino de Nossa Senhora da Lapa, além de contar com serviços voluntários de corte de cabelo oferecidos pela Rosinha do Salão e o sempre inesquecível Amarildo do Mariano, entre outros colaboradores.
         Lembrando que eu era “um dos chefes” do mutirão, o senhor me disse que, na época, ele morava com a família na roça e o seu filho já tinha quase 18 anos de idade, mas possuía apenas a certidão de nascimento. Por causa disso, o rapaz só arranjava serviço de trabalhador braçal sem carteira assinada. Ainda me chamando de Juquinha, o senhor lembrou que chegou atrasado ao mutirão, mas eu o ajudei a conseguir a senha para obter os documentos do seu filho. “Depois que ficou documentado, o meu menino veio pra cidade, arranjou emprego, voltou pra escola e tirou até carteira de motorista, mas eu e a patroa continuamos morando na roça”, relatou com grande orgulho.      

         Após muita prosa e nove cervejas, o senhor finalmente resolveu pedir a conta dizendo que já passava da hora de ir embora. Quando a dolorosa chegou, ele somou seus trocados e viu que só dava pra pagar oito cervejas. Já meio grogue e constrangido, se desculpou por não pagar a conta inteira conforme havia prometido e pediu humildemente ao Lazinho: “Anota uma pro Juquinha”. 
                               (CARLOS DO CIÇA)

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