Colunista relembra a merecida homenagem
a Poetisa de Vazante
Recentemente, no bar do meu amigo Lazinho, um senhor desconhecido,
já de certa idade, tipo bem matuto, aproximou-se da minha mesa para
agradecer-me por uma coisa que eu já nem lembrava que havia feito.
Confundindo-me com o meu irmão Juquinha – que está residindo em Brasília – o
senhor me perguntou se eu não importaria de tomar uma “cervejada” com ele.
“Faço questão de pagar a conta, porque não gosto mesmo é de beber sozinho”,
disse ao sentar numa cadeira ao meu lado.
Procurei recordar se eu conhecia aquele senhor, mas não encontrei
nenhuma referência na memória. Pensei que fosse um dos antigos fregueses do
boteco do velho Ciça, que lembram mais do Juquinha do que de mim. Muita gente
me confunde com o Juca, não só pela semelhança física, mas também pela sua
incrível popularidade, principalmente entre as pessoas mais velhas e conhecidas
dos nossos pais.
Fiquei surpreso
quando o senhor afirmou que eu ajudei o seu filho a arranjar um emprego
“fichado” numa empreiteira da “CMM” e virar “gente de bem”. Ele disse que seu
filho, hoje, trabalha em São Paulo e ganha um “salarião”. Sem saber exatamente
porque ele me agradecia, eu só fui entender quando o especulei curioso sobre os
detalhes do caso.
Há cerca de dez anos
atrás (ou mais), eu e o então presidente da Câmara Municipal, ex-vereador Amir
Pedro de Melo, promovemos o “Mutirão da Cidadania”, primeira grande ação para
emissão gratuita de documentos pessoais ocorrida em Vazante, realizada no
ginásio da ADCVM. O evento ganhou estrondosa repercussão e possibilitou que
centenas de pessoas da cidade e da região obtivessem certidão de nascimento,
carteira de identidade, CPF, carteira de trabalho e título de eleitor.
Dezenas de pessoas
humildes, principalmente moradores do meio rural, conseguiram os seus primeiros
documentos graças àquela ação, que também teve um cunho cultural, com
apresentações musicais e uma merecida homenagem a saudosa poetiza Dona Otávia
Rosa, autora do hino de Nossa Senhora da Lapa, além de contar com serviços
voluntários de corte de cabelo oferecidos pela Rosinha do Salão e o sempre
inesquecível Amarildo do Mariano, entre outros colaboradores.
Lembrando que eu era
“um dos chefes” do mutirão, o senhor me disse que, na época, ele morava com a
família na roça e o seu filho já tinha quase 18 anos de idade, mas possuía
apenas a certidão de nascimento. Por causa disso, o rapaz só arranjava serviço
de trabalhador braçal sem carteira assinada. Ainda me chamando de Juquinha, o
senhor lembrou que chegou atrasado ao mutirão, mas eu o ajudei a conseguir a
senha para obter os documentos do seu filho. “Depois que ficou documentado, o
meu menino veio pra cidade, arranjou emprego, voltou pra escola e tirou até
carteira de motorista, mas eu e a patroa continuamos morando na roça”, relatou com
grande orgulho.
Após muita prosa e nove cervejas, o senhor finalmente
resolveu pedir a conta dizendo que já passava da hora de ir embora. Quando a
dolorosa chegou, ele somou seus trocados e viu que só dava pra pagar oito
cervejas. Já meio grogue e constrangido, se desculpou por não pagar a conta
inteira conforme havia prometido e pediu humildemente ao Lazinho: “Anota uma
pro Juquinha”.
(CARLOS DO CIÇA)
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