segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Dagma Rosa: A arte de pensar


        
         Vazante tem vários sites, páginas no Facebook e rádios que nos informam sobre os acontecimentos de nossa cidade e região. Às vezes, os textos pecam pela falta da lógica. Os redatores não conseguem responder as seis perguntas básicas de um bom texto informativo: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?
         A receita para escrever um texto jornalístico funciona bem porque ensina a pensar. Quem já passou horas diante de uma tela em branco do computador em dúvida sobre por onde começar sabe o que é angústia. Os mais velhos devem se lembrar das páginas arrancadas das máquinas de datilografia quando se instalava a tortura. O papel jogado na lata de lixo tinha a vantagem de materializar o peso do tormento na vida dos candidatos a Machado de Assis, Clarice Lispector ou Guimarães Rosa. Com o computador, não há sinais visíveis do sofrimento, mas ele continua, firme e forte.
         Tanta dor tem uma causa. O texto passa a existir muito antes de tomar corpo na tela. Nasce, primeiro, na cabeça do autor. A habilidade de escrever é resultado da habilidade de pensar — pensar de forma ordenada, lógica e prática. Sem esse exercício, não há como encher a tenebrosa tela branca.
         Assim, gaste tempo pensando sobre o que você quer escrever e, só depois, com um roteiro à mão, sente-se à frente do traumatizante computador. Ele se transformará naquilo que é — valioso instrumento de trabalho. A fonte de onde brotarão ideias, frases inteligentes e conceitos consistentes está no cérebro. A máquina não substitui o maior e mais fascinante talento do homem, a capacidade de pensar. Graças a Deus.
         Trace um plano de voo. Como? A seguir, daremos um roteiro. As regras não garantem o despertar de gênios, mas oferecem caminho seguro para chegar a texto informativo, sucinto e direto, características fundamentais no estilo jornalístico.
1 - Faça um resumo da história como você faz quando um amigo lhe pergunta sobre a festa à qual ele não compareceu. Provavelmente, você diz: "A festa estava animada, cheia de gente bonita. A música era ótima e a comida, fabulosa". Pronto, eis o resumo da sua história. Não o perca de vista. Seu objetivo será contar a narrativa em detalhes.
2 - Responda às seis perguntas indicadas na ordem em que foram apresentadas. A primeira é o quê? A última, e mais difícil, é por quê? As respostas não devem ultrapassar duas linhas. Nunca, jamais, em tempo algum podem ser maiores do que duas linhas. Seja até avarento. Escreva menos ainda.
3 - Enxugue o texto. Em jargão jornalístico, enxugar significa diminuir, cortar, mandar pras cucuias palavras e informações desnecessárias. Comece agora. Você ignorou a orientação para restringir-se a duas linhas? Passe a tesoura sem dó nem piedade.
         Leia e releia o texto e observe se nome, cargos e títulos das pessoas estão corretos. Pode parecer bobagem, mas nada irrita mais os leitores e desacredita a informação que ver nomes publicados com a grafia errada. A recomendação vale para outros pormenores como localização de uma cidade, distâncias, número de leis.
         Na dúvida, procure confirmação em dicionários, mapas, livros de referência e listas telefônicas. Se necessário, volte a telefonar para as fontes da matéria. Não se acanhe. Diga que não está seguro sobre um item e que não gostaria de publicá-lo de forma errada. Fontes sérias agradecerão o cuidado.
        
         Os leitores também.
        


Dagma Alves Rosa tem orgulho de ser vazantina e professora de Língua Portuguesa e Literatura brasileira no Centro Educacional Sebastiana Alves (CESA) e na Escola Estadual Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.

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