Dos quadros mais
graúdos à militância de base, o PT se agitou inteiro em torno da tempestade
perfeita a que vai sendo submetido o banco Santander. A partir de uma
orientação de investimentos dirigida, na sexta-feira 25, a clientes de alta
renda, associando uma piora nas condições da economia ao crescimento da
presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de opinião, a instituição espanhola não
tem parado de sofrer. Enquanto isso, o PT experimenta uma saudável
movimentação, capaz de tirar a ferrugem de suas engrenagens de características
oposicionistas. Numa expressão, o PT se revoltou contra a atitude do Santander.
Um movimento pelo fechamento de contas correntes na instituição vai ganhando
corpo entre os militantes do partido e seus simpatizantes. A CUT, no mesmo dia
em que manifestou apoio formal à reeleição de Dilma, também destacou, pelo
presidente nacional Vagner Freitas, sua concordância com a crítica ao relatório
de investimentos. Citando nominalmente o banqueiro Botín, o ex-presidente
também usou um palanque montado pela central sindical para, com sua linguagem
típica, dizer ao "querido Botín" que o analista financeiro que, em
seguida, teve sua demissão anunciada pelo banco, "não entende porra
nenhuma de Brasil e de Dilma". Na Prefeitura de Osasco, o titular Jorge
Lapas teve uma reação rápida ao que considerou ser uma "tomada de posição
partidária" do banco espanhol. Após receber seguidas reclamações de mau
atendimento do Santander no recebimento de contas do município, Lapas cancelou
um convênio mantido entre a Prefeitura e o banco. Todas essas ações, mais uma
intensa troca de informações nas redes sociais, contribuíram para dar novo
fôlego à militância num momento decisivo da campanha eleitoral: o começo.
Dirigentes do PT entendem que a polêmica com o banco ajudou a despertar a velha
garra e poder de pressão da legenda, recolhida diante do crescimento dos
ataques da oposição ao governo. Para esses líderes petistas, o caso não poderia
ter acontecido em melhor hora, exatamente quando a luta começa a ficar mais
renhida e decisiva. Quem se apressou em defender o relatório do Santander como
um marco da liberdade de expressão, a exemplo de colunistas do circuito
Globo-Abril Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, se deu mal.
Pela fala de seu próprio presidente mundial, o Santander admitiu que não é
correto, do ponto de vista da orientação financeira, um analista cravar com
tanta ênfase, como aconteceu, que a reeleição da presidente significaria,
necessariamente, a entrada do Brasil numa crise econômica. Este tipo de
previsão de futuro pós-eleitoral é simplesmente um palpite que não deveria ser
repassado num canal de comunicação com a clientela. "A pessoa responsável
foi demitida porque fez a coisa errada", disse um irritado Botín, no Rio
de Janeiro. PRIVATIZAÇÃO
MAL DIGERIDA - Em
meio a todo o burburinho provocado pelo relatório, a presença de Botín no
Brasil apenas aumentou a dimensão de repercussão da gafe. Ele veio para abrir o
3º Encontro Internacional de Reitores, sob patrocínio de seu banco, mas
precisou explicar muito mais a análise estabanada do que falar sobre o evento.
Além disso, Botín amargou a ausência, em protesto, de Dilma e do
vice-presidente Michel Temer para o ato. O problema, para o Santander, é que a
tempestade, porque é perfeita, ainda não acabou. Na quinta-feira 31, os líderes
do banco no Brasil apresentarão ao mercado os resultados do primeiro semestre –
e novamente sobre eles recairão perguntas e mais perguntas sobre o episódio que
irritou Dilma. Além disso, internamente os executivos do banco já começam a contabilizar
os efeitos do movimento de militantes do PT pelo fechamento de contas
correntes. Desde a privatização do Banespa, no ano 2000, durante o governo
Fernando Henrique, o partido não tem boas lembranças da instituição. O
Santander fez uma série de demissões entre os bancários e despertou, assim,
também a oposição dos sindicalistas ligados ao partidos. Eles estão
aproveitando o momento para causar o maior dano possível ao banco que entrou
para a categoria dos adversários do governo.
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