Ainda hoje circulando nas ruas a edição 16 do Jornal DeFato.
Notícia na íntegra:
TRAGÉDIA ANUNCIADA
Sensores de segurança já indicavam risco do acidente que matou
eletricista da Votorantim Metais
Fernando Custódio foi
o 19º operário morto em acidentes de trabalho ocorridos na Votorantim em
Vazante
Ocorrida na noite do
dia 18, quinta-feira, na lavra subterrânea da Votorantim Metais/Vazante, a
morte do eletricista Fernando Carlos Reis, de 32 anos, foi uma fatalidade
prenunciada pelos sensores de segurança da companhia. Uma semana antes, na
sexta-feira, dia 12, o gerente local da mineradora, Antônio Padrón, convocou um
DDS (Diálogo Diário de Segurança) para alertar a todos os funcionários e o
pessoal terceirizado sobre os indicativos dos riscos de acontecer um acidente
fatal na empresa. Na oportunidade, ele demonstrou sérias preocupações com o
aumento gradual dos níveis de incidentes registrados por conta do relaxamento
dos operários com as normas de segurança adotadas pela mineradora. Falando com
severidade, Padrón parecia fazer uma premonição que acabou se consumando no
óbito do eletricista, vítima de uma descarga de 440 volts quando fazia
manutenção em um painel de controle elétrico no interior da mina. Colegas de
Fernando Carlos Reis - que era mais conhecido como Fernando Custódio e
trabalhava há 11 anos na empresa - garantem que ele estava usando todos os EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual).
Com mais este trágico acidente, o
número de trabalhadores mortos em serviço na unidade da Votorantim
Metais/Vazante subiu para dezenove, o que representa uma média acima de 1,5
óbitos por ano. Os dados oficiais do histórico de vítimas fatais na empresa
tiveram início em 1985, quando dois engenheiros e cinco operários morreram eletrocutados
na lavra subterrânea devido ao rompimento de um cabo de energia. “Os números
de acidentes ocorridos antes daquele ano são imprecisos, porque não existia o
Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos naquela época”, lembra o
vice-presidente da entidade, Leonardo Ramos.
Os acidentes fatais mais recentes
com operários efetivos da mineradora aconteceram em 2005 e 2007, com as mortes
dos trabalhadores Nildo Antônio de Lima e Celso Fernandes da Fonseca, também no
interior da lavra. Entretanto, o último acidente fatal ocorrido na empresa foi
no dia 1º de setembro de 2011, quando o operário Lester da Costa Gondin, da
empresa MHS, empresa prestadora de serviços, morreu vítima de uma queda de uma
plataforma em construção.
No velório e no sepultamento de
Fernando Custódio, além da consternação pelo seu falecimento, era visível o
receio de alguns operários da Votorantim Metais, diante das perspectivas de
acontecer novos acidentes na mina. Para sustentar a extração economicamente
viável de zinco e cumprir as metas apertadas de produção, a empresa investe
vertiginosamente na expansão da lavra, que já estaria com cerca de 350m de
profundidade, mais de 100 km de galerias e uma crescente vazão do lençol
freático. Essas dimensões gigantescas comprometem cada vez mais os níveis de
segurança necessários para os operários do subsolo, cujas vidas, abaixo de
Deus, só dependem de si mesmos.
Talvez venha das profundezas da
terra uma das razões pela qual a Votorantim Metais costuma tratar seus
funcionários como “colaboradores”, já que os operários da lavra subterrânea
precisam de uma boa dose de senso de colaboração e muita coragem para trabalhar
em um local tão arriscado. Pena que ao divulgar a nota oficial de imprensa
sobre a morte de Fernando Custódio, a Ideia Comunicação, agência de marketing
contratada pela Votorantim Metais, tenha ignorado este reconhecimento e
relatado friamente o falecimento do “empregado Fernando Carlos Reis”. Ao
comentar este fato, um colega da vitima lamentou: “É triste ver um colaborador
vivo virar um empregado morto depois de dedicar a vida ao trabalho”.
(Redação:
Lando Lacerda)
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