quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Lando Lacerda: Sequestradores e sequestrados

  • Lando Lacerda - Jornalista
Sequestradores e sequestrados
Todos já foram vítimas de sequestros eleitoreiros no Brasil


Ocorrida nesta segunda-feira, dia 29, a ação do ex-candidato a vereador Jac Souza Santos (30 anos), do PP-Tocantins, que manteve como refém o mensageiro de um hotel em Brasília e exigia, entre outras coisas, a renúncia da presidente Dilma Rousseff, não é um caso único de sequestro em período eleitoral com nuances políticas contra o Partido dos Trabalhadores (PT).   
 Em 1988, ano das primeiras eleições diretas em todos os municípios brasileiros, quando os incipientes PT de Lula e PDT de Leonel Brizola venceram em dez capitais do país (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro), o desempregado maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, na época com 28 anos, sequestrou um avião com o objetivo de jogá-lo no Palácio do Planalto.
O alvo seria o então presidente José Sarney, a quem ele culpava pela forte crise econômica, cuja inflação era de 400% ao ano, que lhe teria custado o emprego na construção civil.
            O voo 375 da Vasp fazia o trajeto Porto Velho-Rio de Janeiro, com escala em Belo Horizonte, onde o sequestrador entrou na aeronave, que era pilotada pelo comandante Fernando Murilo de Lima e Silva - justamente no dia 29 de setembro daquele ano. Armado de um revólver, Raimundo Nonato matou o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na cabeça, quando este tentou responder a um chamado da torre de Brasília.
Como o avião não tinha combustível suficiente para ir até Brasília, o sequestrador foi convencido pelo piloto a pousar em Goiânia. Após um cerco da Polícia Federal, ele decidiu usar um avião menor tendo o comandante como refém. O piloto conseguiu se desvencilhar e fugiu, enquanto o sequestrador levou um tiro de um agente policial, vindo a falecer no hospital.
Por se tratar de um trabalhador, não faltou quem vinculasse a iniciativa impensada de Raimundo Nonato à militância do PT, que motivava os movimentos de protestos das massas operárias contra a hiperinflação, o desemprego, o arrocho salarial e a exploração patronal.
Já em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente, após a ditadura militar, disputada por Lula e Fernando Collor, as notícias sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar, tiveram um efeito devastador para o candidato do PT. O sequestro, que mudou o voto de milhões de eleitores, aconteceu no dia 11 de dezembro, mas só foi revelado depois da libertação do executivo, no dia 16, véspera da votação, ocorrida no dia 17.
Na época, a grande imprensa divulgou matérias levantando suspeitas de envolvimento de petistas no sequestro, orquestrado por guerrilheiros do Chile, que teriam sido flagrados com materiais da propaganda eleitoral do PT.
As informações só foram desmentidas após a vitória de Collor, quando os sequestradores revelaram que tinham sido obrigados a vestir camisas da campanha de Lula, por ordem da Polícia Federal de São Paulo, então comandada pelo delegado Romeu Tuma, que veio futuramente a ocupar o cargo de Secretário da Receita Federal no governo Collor.
            Beneficiado com a transformação do seqüestro de Abílio Diniz numa farsa eleitoreira, Fernando Collor assumiu a Presidência da República, “seqüestrou” a poupança dos brasileiros, usou o delegado Romeu Tuma para “seqüestrar” boi nos pastos dos fazendeiros e foi o primeiro presidente do país a ter o mandato “seqüestrado” por um processo de impeachament.
            Cuidado. A história adverte: “Quem com seqüestro fere, com seqüestro será ferido. A próxima vítima pode ser você.”


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