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Sequestradores e sequestrados
Todos já foram vítimas de sequestros eleitoreiros
no Brasil
Ocorrida nesta segunda-feira, dia 29, a ação do ex-candidato a vereador
Jac Souza Santos (30 anos), do PP-Tocantins, que manteve como refém o mensageiro
de um hotel em Brasília e exigia, entre outras coisas, a renúncia da presidente
Dilma Rousseff, não é um caso único de sequestro em período eleitoral com nuances
políticas contra o Partido dos Trabalhadores (PT).
Em 1988, ano das primeiras
eleições diretas em todos os municípios brasileiros, quando os incipientes PT
de Lula e PDT de Leonel Brizola venceram em dez capitais do país (incluindo São
Paulo e Rio de Janeiro), o desempregado maranhense Raimundo Nonato Alves da
Conceição, na época com 28 anos, sequestrou um avião com o objetivo de jogá-lo
no Palácio do Planalto.
O alvo seria o então presidente José Sarney, a quem ele culpava pela
forte crise econômica, cuja inflação era de 400% ao ano, que lhe teria custado
o emprego na construção civil.
O voo 375 da Vasp fazia o trajeto
Porto Velho-Rio de Janeiro, com escala em Belo Horizonte, onde o sequestrador
entrou na aeronave, que era pilotada pelo comandante Fernando Murilo de Lima e
Silva - justamente no dia 29 de setembro daquele ano. Armado de um revólver,
Raimundo Nonato matou o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na cabeça,
quando este tentou responder a um chamado da torre de Brasília.
Como o avião não tinha combustível suficiente para ir até Brasília, o
sequestrador foi convencido pelo piloto a pousar em Goiânia. Após um cerco da
Polícia Federal, ele decidiu usar um avião menor tendo o comandante como refém.
O piloto conseguiu se desvencilhar e fugiu, enquanto o sequestrador levou um tiro
de um agente policial, vindo a falecer no hospital.
Por se tratar de um trabalhador, não faltou quem vinculasse a iniciativa
impensada de Raimundo Nonato à militância do PT, que motivava os movimentos de
protestos das massas operárias contra a hiperinflação, o desemprego, o arrocho
salarial e a exploração patronal.
Já em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente,
após a ditadura militar, disputada por Lula e Fernando Collor, as notícias
sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar, tiveram
um efeito devastador para o candidato do PT. O sequestro, que mudou o voto de
milhões de eleitores, aconteceu no dia 11 de dezembro, mas só foi revelado
depois da libertação do executivo, no dia 16, véspera da votação, ocorrida no
dia 17.
Na época, a grande imprensa divulgou matérias levantando suspeitas de
envolvimento de petistas no sequestro, orquestrado por guerrilheiros do Chile, que
teriam sido flagrados com materiais da propaganda eleitoral do PT.
As informações só foram desmentidas após a vitória de Collor, quando os sequestradores
revelaram que tinham sido obrigados a vestir camisas da campanha de Lula, por
ordem da Polícia Federal de São Paulo, então comandada pelo delegado Romeu Tuma,
que veio futuramente a ocupar o cargo de Secretário da Receita Federal no governo
Collor.
Beneficiado com a transformação do
seqüestro de Abílio Diniz numa farsa eleitoreira, Fernando Collor assumiu a
Presidência da República, “seqüestrou”
a poupança dos brasileiros, usou o delegado Romeu Tuma para “seqüestrar” boi nos pastos dos
fazendeiros e foi o primeiro presidente do país a ter o mandato “seqüestrado” por um processo de
impeachament.
Cuidado. A história adverte: “Quem com seqüestro fere, com
seqüestro será ferido. A próxima vítima pode ser você.”
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