O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pode ser acusado de qualquer coisa, menos de não ter respeitado
as regras do jogo democrático. Ao contrário do antecessor Fernando Henrique Cardoso, que
instituiu a reeleição em seu próprio benefício, Lula não mudou uma única regra
eleitoral a seu favor. Em 2010, no auge da popularidade, resistiu às pressões de aliados
para que concorresse a um terceiro mandato, a exemplo do que ocorria em outros
países da América Latina. Em 2014, respeito a precedência da presidente Dilma Rousseff e seu
direito de concorrer à reeleição. Agora, nada mais impede que seu nome seja colocado, novamente,
como alternativa política à sucessão presidencial em 2018. Afinal, Lula ainda é
a maior liderança política do País e foi apontado pela mais recente pesquisa
Datafolha como o melhor presidente da história do Brasil, por 56% dos
entrevistados. Com todo esse capital político, Lula é a pedra no sapato da
direita brasileira, que busca, desde já, os meios para evitar seu retorno, em
2018. Caso seja incapaz de derrotá-lo no voto, o caminho talvez seja
judicial. Mas a linha do discurso foi colocada nesta segunda-feira por Ricardo
Noblat. Em artigo publicado no jornal O Globo, dos irmãos Marinho, ele afirmou
que Lula representa 'uma forte ameaça à democracia'.
Por quê? Só porque representa o risco, para a direita brasileira,
de que vença no voto, ou seja, dentro das regras democráticas?
No Brasil de hoje, o único risco real à democracia seria a
cartelização midiática.
Leia, abaixo, o artigo de
Noblat:
Lula, de esperança a forte ameaça à democracia
Ricardo Noblat
O
que leva Dilma, aos 67 anos de idade, a ser tão rude com seus subordinados? A
pedido de quem me contou, não revelarei a fonte da história que segue.
No
ano passado, ao ouvir do presidente de uma entidade financeira estatal algo que
a contrariou, Dilma elevou o tom da voz e disse:
-
Cale a boca. Cale a boca agora. Você tem 50 milhões de votos? Eu tenho. Quando
você tiver poderá ocupar o meu lugar.
Dilma
goza da fama de mal educada. Lula, da fama de amoroso. Não é bem assim. Lula é
tão grosseiro quanto ela. Tão arrogante quanto.
Eleito
presidente pela primeira vez, reunido em um hotel de São Paulo com os futuros
ministros José Dirceu, Gilberto Carvalho e Luís Gushiken, entre outros, Lula os
advertiu:
-
Só quem teve voto aqui fui eu e José Alencar, meu vice. Não se esqueçam disso.
Em
meados de junho de 2011, quando Dilma sequer completara seis meses como
presidente da República, ouvi de Eduardo Campos, então governador de
Pernambuco, um diagnóstico que se revelou certeiro.
“Dilma
tem ideias, cultura política. Mas seu temperamento é seu principal problema”,
disse ele. “Outro problema: a falta de experiência. E mais um: tem horror à
pequena política. Horror”.
Na
época, Eduardo era aliado de Dilma. Nem por isso deixava de enxergar seus
defeitos.
“Dilma
montou um governo onde a maioria dos ministros é fraca”, observou. “Todos
morrem de medo dela. No governo de Lula, não. Ministro era ministro. Agora, é
serviçal obediente e temeroso. Lula não pode fingir que nada tem a ver com
isso. Afinal, foi ele que inventou Dilma”.
Lula
não perdoa Dilma por ela não ter cedido a vez a ele como candidato no ano
passado. Mas não é por isso que opera para enfraquecê-la sempre que pode.
Procede
assim por defeito de caráter. Com Dilma e com qualquer um que possa causar-lhe
embaraço.
Se
precisar, Lula deixa os amigos pelo meio do caminho. Como deixou José Dirceu,
por exemplo. E Antonio Palocci.
Pobre
de Dilma quando Lula se oferece para ajudá-la.
Na
última quarta-feira, ele jantou com senadores do PT. Ouviu críticas a Dilma e a
criticou. No dia seguinte, tomou café da manhã com senadores do PMDB. O pau
cantou na cabeça de Dilma.
Tudo
o que se disse nos dois encontros acabou se tornando público. Em momento de
raro isolamento, Dilma precisa de muitas coisas, menos de briga.
Pois
foi com o discurso belicoso de sempre, do nós contra eles, do PT e dos pobres
contra as elites, que Lula participou de um ato no Rio em favor da
Petrobras.
Sim,
da Petrobras degradada nos últimos 12 anos pelo PT e seus aliados.
Pediu
que seus colegas de partido defendessem a empresa e se defendessem da acusação
de que a saquearam.
E
por fim acenou com a possibilidade de chamar “o exército” de João Pedro
Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, para sair às ruas e enfrentar os
desafetos do PT e do governo.
Washington
Quaquá, presidente do PT do Rio de Janeiro e prefeito de Maricá, atendeu de
imediato ao apelo de Lula. Escreveu em sua página no Facebook:
-
Contra o fascismo, a porrada. Não podemos engolir esses fascistas burguesinhos
de merda. Está na hora de responder a esses filhos da puta que roubam e querem
achincalhar o partido que melhorou a vida de milhões de brasileiros. Agrediu,
damos porrada.
É
o exemplo que vem de cima!
Para
o bem ou para o mal, este país carregará na sua história a marca indelével de
um ex-retirante nordestino miserável, agora um milionário lobista de
empreiteiras, que disputou cinco eleições presidenciais, ganhou duas vezes e
duas vezes elegeu uma sem voto, sem carisma e sem preparo para governar.
Lula
já foi uma estrela que brilhava sem medo de ser feliz.
Foi
também a esperança que venceu o medo.
Está
se tornando uma forte ameaça à democracia.
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