Descoberta de fósseis em Uberaba, no Triângulo Mineiro, fortalece ainda
mais o município como “terra dos dinossauros”, estimula a elaboração do
mapeamento paleontológico da região e, de forma inédita, ativa a parceira entre
cientistas e empreendedores da construção civil para preservação de sítios
pré-históricos. Escavações num terreno de área nobre da cidade, o Bairro São
Bento, onde são construídas oito torres residenciais, levaram à localização do
fêmur de um Titanosauria, animal que viveu há cerca de 80 milhões de anos, e de
fragmentos menores. O achado, ocorrido há um mês e divulgado ontem, entusiasma
pesquisadores do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis, da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (CCCP/UFTM), que fizeram a identificação e já
colocaram o material em exposição no museu da instituição. “Quem procura acha
e, neste trabalho, precisamos também ter sorte”, diz o supervisor do CCCP, o
paleontólogo Thiago Marinho. Ele explicou que tudo começou há dois anos,
durante a construção de um shopping, por outra construtora, ao lado do terreno
no qual são erguidos os prédios. Diante dos vestígios pré-históricos na área, a
equipe de Peirópolis procurou o promotor de Justiça da comarca, Carlos Alberto
Valera, e encontrou boa receptividade por parte do empreendedor Tiago
Pantaleão. Interessado nos estudos, o construtor convocou inicialmente dois
paleontólogos da Universidade de Paulo (USP), que viram potencial na área, mas
não localizaram nada. Com o sinal verde para visitar a área, Thiago Marinho, ao
lado do empreendedor, não demorou mais do que 10 minutos para achar o fêmur do
titanossuro no meio de um bota-fora ou rejeito das escavações do condomínio. Em
novas ações nas rochas fossilíferas, foram surgindo mais de 30 fragmentos,
entre eles dois de tartarugas. “Houve muito empenho de nossa parte e boa
vontade do empresário. Não ocorreu embargo da obra e estamos podendo trabalhar
com tranquilidade no terreno para ver se achamos mais fósseis”, conta o
paleontólogo. Uberaba e arredores são celeiro para os paleontólogos, que em
julho localizaram em Campina Verde, município vizinho, a ossada inteira de um
crocodilo e a vértebra do pescoço de um titanossauro, o maior dinossauro
brasileiro, que teria 25 metros de comprimento. “A região é rica em calcário
proveniente de águas subterrâneas. É um calcário muito puro que beneficiou a
fossilização”, explica o supervisor do CCCP.
MAPEAMENTO Outro entusiasmado com o potencial de Uberaba, e com a
novas portas que se abrem para as pesquisas e proteção, é o promotor de Justiça
Carlos Alberto Valera. Ciente da riqueza da região, ele destaca que o
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) emitiu nota técnica sobre o
assunto e entrou em contato com a construtora. Entre os efeitos, está o futuro
mapeamento paleontológico, de forma a nortear todos os empreendimentos, sem
destruir os sítios pré-históricos. A partir da nota técnica do DNPM, os
ministérios públicos de Minas Gerais (MPMG) e Federal (MPF) vão fazer uma
recomendação às prefeituras da região para impedir impactos durante obras ou
serviços que movimentem ou revolvam terra. Qualquer atividade nesse sentido,
portanto, deverá ter autorização municipal, com a obrigatoriedade de se fazer o
monitoramento paleontológico. “O momento é muito importante. Devido aos novos
achados, teremos instrumentos preventivos e de acompanhamento de projetos”,
afirmou Valera. Com o empreendimento na etapa final, Tiago Pantaleão conclama
os construtores a seguir o exemplo e preservar os sítios históricos e
pré-históricos. “Muitos vezes, por desconhecimento das pessoas, perde-se um
material riquíssimo. Não faz sentido, em pleno ano de 2015, alguém deixar de
proteger esses tesouros. Quero inaugurar um novo tempo, abrindo as nossas
próximas obras, desde o começo, para avaliação do potencial”, afirma Pantaleão.
Ossadas milenares - Para chegar aos dias de hoje, essas joias
foram conservadas por meio de mumificação, congelamento, âmbar, lagos
asfálticos e outros. Em Minas, há áreas de destaque, como o Triângulo, terra
dos dinossauros, Norte, Noroeste e Sul, além do Vale do Rio das Velhas,
principalmente a região cárstica de Lagoa Santa, na Grande BH. A recente
descoberta se deu nas rochas sedimentares denominadas arenitos da Formação
Uberaba, nome dado a este conjunto que recobre quase toda a superfície da malha
urbana do município.
Memória - Rico território - Em dezembro de 2012, descobertas em Campina
Verde, no Triângulo Mineiro, surpreenderam os cientistas. Em escavações no
município, distante 676 quilômetros de Belo Horizonte, equipe da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU) encontrou fósseis com cerca de 70 milhões de anos
pertencentes a um tipo de dinossauro que poderia ter até 15 metros de
comprimento. O achado divulgado pelo coordenador da equipe, o professor e
paleontólogo Douglas Riff, do Instituto de Biologia da universidade, incluiu um
íleo (osso da bacia) e um conjunto de vértebras. Há mais de mês, foi encontrado
um osso com mais de um metro de comprimento no mesmo local. Os ossos estavam às
margens da rodovia federal da BR-364, ligando São Paulo (SP) a Cuiabá (MT).
Durante a construção, as máquinas fizeram um corte na estrada e os fósseis
apareceram. Já em julho, também em Campina Verde, foi localizada a ossada de um
crocodilo inteiro e, uma semana depois, a vértebra do pescoço de um
titanossauro, o maior dinossauro brasileiro, que teria 25 metros de
comprimento.
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