quarta-feira, 15 de abril de 2015

Carlos do Ciça: Pavor na Saúde de Vazante

Na década de 1990, nosso saudoso amigo Amarildo do Mariano protagonizou uma cena cômica de pavor na saúde em Vazante. No antigo posto de saúde próximo à Credivaz, onde, hoje, funciona o PSF Central, estava acontecendo uma vacinação em massa que eu já não me lembro contra qual doença. Sei que havia gente de todas as idades, inclusive, um grande número de crianças.
            A vacina ainda era aplicada com aquele instrumento pavoroso, parecido com um revolver de pressão, que provocava uma dor incômoda no braço das pessoas. Claro que a criançada estava aterrorizada com a forma de procedimento da vacina, mas os pais usavam de toda psicologia infantil para tentar acalmá-las.
            A fila de vacinação transcorria normalmente até que chegou a vez do Amarildo ser vacinado. Fazendo cara de machão, com seu matreiro senso de humor, ele arregaçou a manga da camisa, já pensando em atemorizar ainda mais a molecada. Quando a enfermeira disparou o gatilho do aparelho de vacina, Amarildo levou a mão ao braço, curvou o corpo, soltou um longo e exagerado “aaaiiii!” e gritou bem alto: “O trem dói dimais, sô!!!”.
            Ao verem aquele marmanjão aparentando tanto sofrimento de dor, as crianças que ainda não tinham sido vacinadas esbugalharam os olhos e fugiram apavoradas em uma louca debandada do posto de saúde sem que os pais tivessem pernas para alcançá-las.
Conheço algumas daquelas crianças que mesmo depois de adultas continuam com trauma de vacina por causa da peraltice do Amarildo.
            Estou lembrando este fato para alertar que Vazante passa atualmente por um caso bem mais grave de pavor na saúde, setor que obrigatoriamente deveria funcionar bem numa cidade ironicamente governada por um médico.
            Ao invés disso, aumentam a cada dia as reclamações pela péssima qualidade do atendimento nas unidades de saúde e também no Hospital Municipal, onde estariam faltando coisas básicas como produtos de limpeza, materiais de uso clínico e para assepsia.
            Os procedimentos cirúrgicos foram reduzidos por falta de anestesista. A Policlínica Municipal não dispõe de profissionais para atender especialidades médicas que, antes, eram disponibilizadas para a população, incluindo exames de mamografia.
            Com raros doutores que despertam a confiança dos pacientes, o quadro de médicos da prefeitura é insuficiente para a demanda de atendimento no município.
            Nos últimos meses se tornaram comuns as reclamações pela falta de medicamentos na Farmácia Municipal. Dizem que anda faltando até luvas descartáveis para os dentistas nos consultórios odontológicos mantidos pela prefeitura.
            Há também comentários de que a Administração Municipal não teria se interessado pelo agendamento de cirurgias gratuitas de cataratas oferecidas pelo CISALP (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Alto Paranaíba), numa clínica oftalmológica de Lagoa Formosa.
            Diante da longa lista de queixas que ouvimos diariamente dos usuários, podemos chegar a uma triste conclusão sobre o fantasma da saúde no desgoverno do prefeito Dr. Zé, um médico que já receitou muito “Boldo e Patos de Minas” quando atendia em João Pinheiro.
            Diferente das crianças que fugiram da vacinação, assombradas pela encenação do Amarildo, a população menos favorecida de Vazante infelizmente não tem para onde correr quando precisa de um bom atendimento na saúde, principalmente em casos de risco de morte.

PS: Com essa recordação do inesquecível amigo Amarildo, expresso meus sentimentos de profundo pesar pelo recente falecimento do seu irmão e também nosso amigo Neguinho do Mariano, solidarizando-me com seus familiares na irremediável consternação pela sua ausência em nossas vidas. Que Deus lhe reserve um bom lugar e conforte a sua família.

                                          (Carlinhos do Ciça)

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