É tão grande que não cabe em sua própria enormidade o que
aconteceu neste 26 de novembro. É tão grande que já seria grande se
simplesmente disséssemos que o Atlético-MG é o campeão da Copa do Brasil de
2014 – campeão e ponto final. Ou que pela primeira vez conquista o torneio. Ou
que garante vaga na Libertadores. Ou que assegura seu quarto título em dois anos.
Mas é muito mais que isso tudo – a ponto de transformar a taça em si (ou seu
ineditismo, ou suas consequências) em detalhe, em ornamento para o feito maior,
o feito que efetivamente importa aos vencedores: que é sobre o Cruzeiro. No
maior clássico que Minas Gerais já viu, o Galo bateu o rival por 1 a 0 na noite
desta quarta-feira, no Mineirão, naquela que foi a primeira final de um torneio
nacional entre eles - uma vitória para a posteridade, uma vitória para sempre.
O gol de Diego Tardelli entra para o imaginário do torcedor
mineiro – muito especialmente o atleticano. Com ele, o Galo carimba a faixa de
campeão brasileiro do eterno adversário e evita que ele alcance a Tríplice
Coroa em 2014. Em mais de 90 anos de rivalidade, em uma história que remete ao
começo do século passado, aos tempos em que o Cruzeiro ainda se chamava
Palestra Itália, é a vitória mais importante de um sobre o outro – como se um
campeonato estivesse dentro do jogo, não o jogo dentro de um campeonato.
A conquista descende daquilo que o Atlético alcançou no
primeiro jogo, há duas semanas, no Independência – a vitória por 2 a 0 que
permitia que ele até perdesse o duelo desta noite. Mas o que o Galo menos fez
foi se acomodar na vantagem. Jogou para cima, atacou, agrediu. Agiu como
campeão. De quebra, fechou o ano sem perder clássicos: foram sete na temporada,
com quatro vitórias alvnegras e três empates.
Jogadores do Galo fazem a festa no gramado do Mineirão
(Foto: Bruno Cantini/Flickr do Atlético-MG)
Jogadores do Galo fazem a festa no gramado do Mineirão
(Foto: Bruno Cantini/Flickr do Atlético-MG)
Tardelli nasceu para clássicos
Diego Tardelli tem 29 anos e se define como um “veterano
novo”. Parece que faz gols há eras. Especialmente gols pelo Atlético – são 110.
Mais especialmente ainda gols contra o Cruzeiro – impressionante: já são nove
em clássicos. Por tudo isso, quando a bola saída do pé de Dátolo cruzou o céu
de Mineirão e teleguiou-se até a cabeça careca do atacante, o que aconteceu ali
foi o ato maior de uma relação profunda, de uma afinidade que só cresce, desse
triângulo amoroso entre Tardelli, o Atlético e a torcida.
O gol saiu aos 47 minutos. E foi absolutamente justo. O
Atlético foi surpreendentemente melhor do que o Cruzeiro – surpreendentemente
não apenas por ser melhor, mas pelo tanto que foi melhor. Desde o começo do
jogo, foi mais vigoroso, mais envolvente, mais compacto. Poderia ter saído na
frente cedo, com sete minutos, quando Luan mandou na área e Tardelli quase
completou; ou aos 12, quando Marcos Rocha recebeu frente a frente com Fábio e
foi superado pelo goleiro – na sequência, Tardelli mandou para fora; ou aos 24,
quando Tardelli (repare: sempre ele) mandou de coxa para fora; ou ainda aos 42,
em conclusão de Maicosuel novamente defendida por Fábio (e com Dátolo mandando
por cima na sobra).
Foi muito Atlético para pouco Cruzeiro. Mesmo depois de
perder Luan, lesionado aos 31 minutos, o Galo soube se impor. A Raposa teve
suas chances, é verdade – a principal delas em chute torto de Ricardo Goulart
após lançamento de Fábio. Mas esteve muito aquém das exigências de um time que
precisava de três gols para ser campeão.
Absolutamente campeão
O Cruzeiro precisava de quatro gols no segundo tempo para
ser campeão da Copa do Brasil. Jamais deu pinta de que conseguiria – nem
quatro, nem três, nem dois, nem unzinho que fosse. As jogadas simplesmente não
fluíam. Era evidente a destruição física da equipe depois da brilhante campanha
no Campeonato Brasileiro. O Galo, mais inteiro, até não repetiu a soberania do
primeiro tempo – mas seguiu melhor encaixado.
Com Willian Farias no lugar de Henrique, lesionado, o
Cruzeiro fez o possível para reagir. Só que nem as jogadas entre Éverton
Ribeiro e Ricardo Goulart, geralmente tão fatais, tinham andamento. Para piorar
a vida celeste, o Atlético sabia ameaçar – vide o que aconteceu aos seis
minutos, quando Maicosuel, colado na trave, não conseguiu marcar o segundo, ou
vide a patada de Dátolo no travessão de Fábio em cobrança de falta.
A torcida cruzeirense, entre vaias e incentivos, teve que
suportar a festa do rival. Vingou-se com gritos de “segunda divisão” e
“tetracampeão”.
Porque até isso o clássico teve de gigante: um foi campeão
três dias depois de o outro ser. Timing perfeito para os torcedores do Galo –
embora alguns momentos prescindam de timing: vistos do prisma da posteridade,
simplesmente não têm data. Acontecem e ficam. São anos, décadas, séculos dentro
de duas horas – pergunte a um atleticano.
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